sábado, 2 de junho de 2012

O incompreendido Terra em Transe

          
         "Terra em Trase", talvez não seja o filme mais compreendido dos tempos do Cinema Novo. De fato a leitura de sua narrativa não é fácil e nem assimilada de pronto. Mas é um ícone dos filmes do Cinema Novo e enfrentou sérias controvérsias quando foi lançado em 1967, por Glauber Rocha. O diretor traduziu a realidade política do Brasil, dos anos 1960-1966 para um filme fictício. Situa suas personagens no país latino-americano Eldorado. O filme constrói a história de ascensões e lutas pelo poder da República de Eldorado, enlaçados pelo triangulo amoroso de Paulo Martins, o jornalista idealista e poeta ligado ao político conservador, a meretriz Sílvia e o seu amante o tecnocrata Porfírio Diaz.

         O filme metaforiza em seus personagens diferentes tendências políticas presentes no Brasil da época. Realiza uma exaustiva crítica de todos aqueles que participaram desse processo, incluindo as diferentes correntes da chamada esquerda brasileira. Isto foi um dos motivos pelos quais foi tão mal recebido pela crítica e pelos intelectuais nacionais.

         O recebimento não foi acolhedor. Em abril de 1967 o filme foi proibido em todo território nacional, com a argumentação de ser considerado subversivo e irreverente com a Igreja e só foi liberado com a condição de que fosse dado um nome a personagem do padre interpretado por Jofre Soares.

         Hoje o filme é reconhecido como um marco na história do Cinema Brasileiro e é preciso compreende-lo. Segundo o coprodutor e diretor de fotografia Luis Carlos Barreto, em entrevista a Folha de S. Paulo o problema da compreensão não está na linguagem do filme, mas na mente do público brasileiro que não consegue compreender novas narrativas diversas das quais já está tão acostumado:

        "Por ser um filme sem concessões, caótico, polemico, feito sem a intenção de agradar a quem quer que seja, a ele e ao autor são lançadas as maiores acusações, reacionárias no mais amplo sentido da palavra. A visão do grande publico brasileiro está condicionada, parada no tempo, acostumada a linguagem simplista, estacionada no "E o Vento Levou". Enquanto isso, "Terra em Transe" marca a divisão de duas épocas, e sua tentativa de criar uma linguagem nova chega a chocar, não é aceita de imediato. As acusações são iguais àquelas dos velhos professores de Carlos Drumond de Andrade, quando o rejeitavam. Pela mesma experiência passou Oscar Niemeyer, alvo do mesmo reacionarismo". O certo entende Barreto, é que o filme não deixa de ser discutido e, como matéria de debate, Glauber Rocha coloca a velha questão: se o cinema deve ficar estagnado ou deve prosseguir inovando e investigando. "Terra em Transe" é mais um marco na historia do cinema, e principalmente no Terceiro Mundo quem quiser fazer cinema terá de enfrentar o desafio de meu diretor".



         Quem sabe devamos nos concentrar um pouco no cinema brasileiro e conhecendo nossos filmes, entender melhor nossa história e nossa realidade. Os filmes, são uma das traduções da realidade, uma das linguagens usadas para transmitir nossas crenças, é preciso compreende-los.

 Confira do filme na íntegra em:     http://www.youtube.com/watch?v=RUlSBE7Z-1g&feature=related

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