segunda-feira, 1 de outubro de 2012

'Antiespetáculo' marca documentário sobre Jards Macalé

De Eryk Rocha, 'Jards' estreia no Festival do Rio nesta segunda (1º). Longa é um dos dez concorrentes da mostra competitiva Première Brasil.
Henrique Porto
Do G1 Rio

Quando recebeu o convite de Jards Macalé para registrar em imagens o processo de produção de "Jards", mais recente álbum do cantor e compositor carioca, o cineasta Eryk Rocha já sabia o que fazer. "Queria que as músicas falassem, que os instrumentos virassem personagens. E que eu pudesse contar esta história através do corpo do Macalé. E isso é muito mais revelador do que uma entrevista", explica o diretor. Pois assim é o documentário homônimo ao disco gravado em 2011, parceria do Canal Brasil com a Biscoito Fino que estreia no Festival do Rio nesta segunda-feira (1º), em sessão de gala a ser realizada no Cine Odeon, às 17h.

O cantor e compositor Jards Macalé, artista retratado pelo cineasta Eryk Rocha em 'Jards': filme compete na mostra Première Brasil de documentários do Festival do Rio (Foto: Divulgação)

De fato, não há depoimentos ao longo dos cerca de 90 minutos de projeção. Os únicos diálogos capturados pelas câmeras regidas pelo filho do também cineasta Glauber Rocha (1939-1981) são do artista com seus músicos e, destes, com seus instrumentos. As imagens de arquivo também são esparsas: exibem apenas um Jards granulado em negativos de Super 8, em imagens resgatadas junto ao próprio acervo pessoal do cantor e filmadas no período do exílio em Londres — época em que também gravou o cultuadíssimo "Transa", de Caetano Veloso.

À medida que o filme avança, muito pouco é revelador. A fotografia é subexposta em microdetalhes, sombras e supercloses que, por vezes, dificultam o reconhecimento do personagem em questão (são inúmeras as participações especiais, que incluem Luiz Melodia, Frejat, Thais Gulin e Adriana Calcanhotto). Saltam na tela poros, olhos, dentes, teclas de piano, baquetas e partituras incompletas.


"É uma câmera epidérmica, cinema de pele. As imagens não são realistas nem claras. É proposital, uma espécie de antiespetáculo", define Eryk. "Muitas vezes os filmes musicais têm essa coisa de mostrar um produto pronto. Meu interesse é outro: poder desmistificar um pouco o idealismo que se construiu em relação ao processo de criação de um artista. E colocar o espectador num processo de imersão."


Mas e o artista retratado? O que achou do resultado? "O filme me pega por um ângulo mais íntimo, que trata justamente do meu trabalho. E, como é um trabalho afetivo, gostei muito. Comprei até um home theater, para ouvi-lo melhor", diz Macalé, celebrando o olhar do diretor sobre seu processo criativo. "Eu adoro o incomum. Se não fosse assim, acharia uma merda", sentencia.
Um dos momentos de concentração do cantor, capturado pela 'câmera epidérmica' do filho de Glauber Rocha (Foto: Divulgação)


Nos poucos momentos não musicais do longa, Jards é flagrado andando cabisbaixo pelas ruas do Rio de Janeiro e em momentos mais introspectivos, como quando se deixa filmar em casa. Melancolia?

"Melancolia nada. Isso é uma bobagem que alguém andou escrevendo por aí. Aquilo é concentração. Quando estou trabalhando, em casa ou na rua, estou extremamente concentrado. As namoradas até reclamam", diz o músico, que garantiu presença no Cine Odeon, nesta segunda. "Quero saber a reação da rapaziada", confessa o compositor de "Gotham City" e "Farinha do desprezo".

Um dos dez concorrentes da mostra competitiva de documentários do Festival do Rio, “Jards” deve entrar em circuito em março do ano que vem, em sessões gratuitas nas salas do Espaço Itaú de todo o país.

"Muitos artistas brasileiros caem num certo estigma, numa caricatura que acaba sendo repetida. Na maioria das vezes, a mídia só reproduz aquela mesma imagem. Rotula. Eu queria justamente inventar o meu Jards, que é o meu recorte, minha possibilidade", ressalta Eryk, simplificando ainda mas o trabalho realizado em parceria com o cantor.

"Foi um encontro de afeto e de amizade entre nós. Encontros são capazes de transformar as coisas, a arte. É o que pode salvar o mundo hoje. Este filme nasceu a partir disso."

FESTIVAL DO RIO
"Jards"
Terça-feira (2)
Pavilhão do Festival, 13h30
Armazém da Utopia (Armazém 6)
Rua Rodrigues Alves, S/N - Cais do Porto

Quarta-feira (3)
Roxy 3, 14h e 19h
Avenida Nossa Senhora de Copacabana, 945 / A - Copacabana

Quinta-feira (4)
Cinemark Botafogo 3, 14h e 19h
Botafogo Praia Shopping
Praia de Botafogo, 400, Arco 800 - Botafogo 

Sexta-feira (5)
Ponto Cine, 18h
Guadalupe Shopping
Estrada do Camboatá, 2.300 / 1º piso - Guadalupe
Veja a programação completa no site oficial do festival