Henrique Porto
Do G1 Rio
O cantor e compositor Jards Macalé, artista retratado pelo cineasta Eryk Rocha em 'Jards': filme compete na mostra Première Brasil de documentários do Festival do Rio (Foto: Divulgação)
De fato, não há depoimentos ao longo dos cerca de 90 minutos de projeção. Os únicos diálogos capturados pelas câmeras regidas pelo filho do também cineasta Glauber Rocha (1939-1981) são do artista com seus músicos e, destes, com seus instrumentos. As imagens de arquivo também são esparsas: exibem apenas um Jards granulado em negativos de Super 8, em imagens resgatadas junto ao próprio acervo pessoal do cantor e filmadas no período do exílio em Londres — época em que também gravou o cultuadíssimo "Transa", de Caetano Veloso.
À medida que o filme avança, muito pouco é revelador. A fotografia é subexposta em microdetalhes, sombras e supercloses que, por vezes, dificultam o reconhecimento do personagem em questão (são inúmeras as participações especiais, que incluem Luiz Melodia, Frejat, Thais Gulin e Adriana Calcanhotto). Saltam na tela poros, olhos, dentes, teclas de piano, baquetas e partituras incompletas. "É uma câmera epidérmica, cinema de pele. As imagens não são realistas nem claras. É proposital, uma espécie de antiespetáculo", define Eryk. "Muitas vezes os filmes musicais têm essa coisa de mostrar um produto pronto. Meu interesse é outro: poder desmistificar um pouco o idealismo que se construiu em relação ao processo de criação de um artista. E colocar o espectador num processo de imersão." Mas e o artista retratado? O que achou do resultado? "O filme me pega por um ângulo mais íntimo, que trata justamente do meu trabalho. E, como é um trabalho afetivo, gostei muito. Comprei até um home theater, para ouvi-lo melhor", diz Macalé, celebrando o olhar do diretor sobre seu processo criativo. "Eu adoro o incomum. Se não fosse assim, acharia uma merda", sentencia.
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